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Maçonaria: O que é e qual é a sua relação com a religião

05 de outubro de 2022

Organização filosófica prega a liberdade religiosa e, ao longo dos anos, foi erroneamente associada ao satanismo e a figuras ocultistas

Maçonaria:  O que é e qual é a sua relação com a religiãoFoto: FreePik

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursando em uma loja maçônica. O fato gerou revolta em parte do eleitorado cristão, sobretudo evangélico, do atual chefe de Estado nessa terça-feira (3).

Mas, afinal, o que é a maçonaria e qual é o conflito entre ela e o cristianismo? Para responder a essas perguntas, o iG conversou com Leonardo Lousada, pós-graduado em Ciência da Religião e dono do canal no YouTube Conhecimentos da Humanidade, que conta com mais de 500 mil inscritos.

A organização filosófica prega a liberdade religiosa e, ao longo dos anos, foi erroneamente associada ao satanismo e a figuras ocultistas.

O que é a maçonaria?

Segundo Lousada, o nome "maçonaria" vem do francês " maçon ", que significa pedreiro. A organização foi fundada oficialmente em Londres, em 1717, época de grandes construções em pedra, como castelos e catedrais.

Antes disso, a maçonaria já existia, mas não oficialmente. Os pedreiros se organizavam nas chamadas guildas medievais – hoje chamadas lojas –, que eram associações de profissionais durante a Idade Média, como pedreiros, ferreiros e alfaiates. Em 1717, então, essas guildas se juntaram e fundaram a Grande Loja Unida da Inglaterra, a principal e mais antiga Obediência Maçônica do mundo.

Ao contrário do que muitos pensam, a maçonaria não é uma religião, mas uma organização de ordem filosófica. Para se filiar à maçonaria, afirma Lousada, é preciso ser homem, maior de idade e ter algum tipo de crença espiritual, seja ela qual for. A pessoa também precisa ser convidada por um maçom para se tornar um membro da organização.

Dentro da maçonaria, existem três níveis hierárquicos: aprendiz, companheiro e mestre. Essa hierarquia vem desde 1717, quando existiam as guildas medievais. A ideia é que o maçom suba de nível hierárquico à medida que for adquirindo conhecimento.

"Na época das guildas, ensinavam-se os segredos mais profundos da arte da construção. Mais tarde, quando a organização se oficializa como uma instituição filosófica, esses graus passam a ser metafóricos. Em vez de o maçom lapidar uma pedra, ele lapida a si mesmo, na busca de uma evolução pessoal", diz Lousada.

Quem são os maçons e o que eles têm em comum?

Atualmente, a maçonaria tem como principal lema a frase "liberdade, igualdade e fraternidade", que foi também o lema da Revolução Francesa. Existe um grande senso de pertencimento entre os maçons, que se ajudam e se apoiam mutuamente.

Apesar de, hoje em dia, os membros da maçonaria serem em sua maioria homens conservadores, não existem restrições de ordem ideológica ou religiosa para se filiar à organização. Homens de qualquer espectro político e de qualquer religião podem se tornar maçons.

Lousada explica que, uma vez feito o convite, o interessado passa por uma entrevista, na qual são avaliados aspectos como sua ética e moral. A preferência política, na maioria das vezes, não é levada em consideração.

Vários personagens da história do Brasil eram ligados à maçonaria. Dom Pedro I, Deodoro da Fonseca, Jânio Quadros e Mário Covas são alguns dos exemplos. O mesmo se repete pelo mundo, como Benjamin Franklin, George Washington e Martin Luther King Jr.

Qual é o conflito entre a maçonaria e o cristianismo?

A Igreja Católica sempre considerou a maçonaria uma instituição com princípios conflituosos com o catolicismo. O principal deles é a liberdade religiosa.

"Basicamente, a religião diz que ela detém o poder de Deus na Terra. A maçonaria, por sua vez, prega que cada ser humano é livre para ter sua própria religião", afirma Lousada.

A Igreja chegou a proibir publicamente seus fiéis de serem maçons, sob punição de não poderem mais comungar, ou seja, receber o sacramento da Eucaristia – o pão e o vinho, que representam o corpo e o sangue de Cristo, respectivamente.

Hoje em dia, a maçonaria é mais aceita pelos católicos e menos pelos evangélicos, de acordo com Lousada.

Ele explica que as igrejas evangélicas nascem do seio da Igreja Católica, mas de maneira protestante, indo contra algumas regras. Inclusive, daí vem o nome Protestantismo, que se refere ao movimento de cristãos que romperam com a Igreja Católica durante a Reforma Protestante, no século 16.

No início, a maçonaria chegou a acolher as igrejas evangélicas e ajudou até a fundar algumas, como a Igreja Batista. Mas, com o tempo, os fiéis foram percebendo que a maçonaria pregava a liberdade religiosa e começaram a atacar a organização, da mesma forma que a Igreja Católica.

"Eles diziam que os maçons eram do diabo, que adoravam uma entidade chamada Baphomet [criatura simbólica criada por Éliphas Levi, um ocultista francês], que faziam rituais satânicos e coisas do gênero. O objetivo era gerar medo e impedir que essa ideia de liberdade religiosa crescesse dentro do meio evangélico", afirma.

Para Lousada, no entanto, a viralização do vídeo em que Bolsonaro aparece dentro de uma loja maçônica não deve ter muita influência sobre o voto dos evangélicos "moderados", ou menos radicais, que apoiam o atual presidente.

Valedoitaúnas (iG)



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