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Criança ingeriu cacto psicoativo pouco antes de ser sacrificada no antigo Peru

05 de novembro de 2022

Estudo de fio de cabelo sugere que vítima de ritual da cultura Nazca teve sua cabeça decepada e transformada em troféu após comer planta altamente alucinógena

Criança ingeriu cacto psicoativo pouco antes de ser sacrificada no antigo PeruDuas cabeças, uma de uma criança e outra de uma mulher, faziam parte de uma antiga cerimônia realizada no atual Peru – Foto:  Dagmara Socha

A análise de um único fio de cabelo da cabeça mumificada de uma criança morta no Peru sugere que a vítima comeu um cacto psicoativo antes de sua execução, como parte de uma cerimônia. As descobertas foram registradas online em 13 de outubro na revista Journal of Archeological Science.

A criança da cultura Nazca foi sacrificada milhares de anos atrás, como parte de um ritual antigo, no qual sua cabeça foi cortada do pescoço e transformada em uma espécie de troféu. O resto mumificado era um dos 22 resquícios humanos associados à antiga sociedade avaliados na pesquisa.

Esses indivíduos viveram na era pré-hispânica (3500 a.C. a 476 d.C.) e foram enterrados perto da costa sul do Peru, onde foram escavados durante o Projeto Nazca, um longo programa arqueológico iniciado em 1982.

Os pesquisadores coletaram amostras de cabelos de 4 cabeças, três das quais pertenciam a adultos, e de 18 múmias de adultos e crianças. Exames toxicológicos revelaram que muitos dos falecidos haviam consumido algum tipo de planta psicoativa ou estimulante antes de morrerem, como folhas de coca e vestígios de Banisteriopsis caapi, o principal composto da ayahuasca, bebida alucinógena que contém harmina e harmalina – compostos hoje usados ​​em antidepressivos.

Criança ingeriu cacto psicoativo pouco antes de ser sacrificada no antigo PeruCriança no Peru foi sacrificada, sua cabeça foi cortada no pescoço e transformada em uma espécie de troféu — Foto: Dagmara Socha

Os cientistas não sabem o sexo nem a idade da criança sacrificada que comeu o cacto, conhecido como cacto San Pedro (Echinopsis pachanoi). A planta contém mescalina, uma droga psicodélica com fortes propriedades alucinógenas.

"A cabeça do troféu é o primeiro caso de consumo de San Pedro por um indivíduo que vive na costa sul do Peru", disse Dagmara Sacha, líder do estudo, ao site Live Science. “É também a primeira evidência de que algumas das vítimas que foram transformadas em cabeças de troféu receberam estimulantes antes de morrerem”.

Criança ingeriu cacto psicoativo pouco antes de ser sacrificada no antigo PeruOs restos mumificados de uma criança cujo laudo toxicológico mostrou o consumo de folhas de coca – Foto: Dagmara Socha

O uso de drogas datava de 100 a.C. a 450 d.C. e movimentava um mercado, segundo os pesquisadores. "Podemos ver que essa transição das plantas começou cedo e podemos rastrear a rede de comércio", disse Socha. "Nossa pesquisa mostra que essas plantas foram extremamente importantes para diferentes culturas para efeitos médicos ou visionários”.

De acordo com a pesquisadora, especialmente porque não há registro desse período de tempo, o que sabemos sobre Nazca e outras culturas próximas é somente fruto de investigações arqueológicas. Os cientistas ainda têm dúvidas sobre o quão difundido era o consumo de plantas nessa cultura.

Além dos restos humanos, a equipe também achou tecidos, potes de cerâmica, ferramentas de tecelagem e um tipo de bolsa usada para carregar folhas de coca. O grupo ainda quer descobrir a rota do comércio de algumas das plantas antigas. "Por exemplo, as folhas de coca não eram cultivadas na costa sul do Peru, então elas tinham que ser trazidas do norte do Peru ou da região amazônica”, cita Socha.

(Fonte: Galileu)



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