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Como uma mulher sérvia sobreviveu à maior queda sem paraquedas da história

29 de maio de 2022

Vesna Vulović trabalhava no voo JAT 367, que explodiu a mais de 10 mil metros de altura

Como uma mulher sérvia sobreviveu à maior queda sem paraquedas da históriaComo Vesna Vulović sobreviveu à maior queda sem paraquedas – Foto: Wikimedia Commons

No dia 26 de janeiro de 1972, a comissária de bordo Vesna Vulović, então com 23 anos, obteve o recorde mundial de sobrevivência à queda mais alta sem paraquedas. Ela estava trabalhando a bordo do voo 367 da companhia JAT Yugoslav Airwaysquando o avião explodiu a 10.160 metros de altura (33.333 pés) enquanto sobrevoava a Tchecoslováquia, hoje República Tcheca. O recorde perdura até hoje, 50 anos depois do acidente.

O voo JAT 367 fazia o trajeto entre Estocolmo, capital da Suécia, e Belgrado, na Sérvia. A aeronave modelo McDonnell Douglas DC-9 levava 23 passageiros e 5 tripulantes. A explosão matou todos a bordo, exceto Vesna, a única sobrevivente.

Sobrevivente do destino

O JAT 367 tinha duas escalas programadas entre Estocolmo e Belgrado. A primeira foi em Copenhague, na Dinamarca, onde a tripulação secundária – incluindo Vesna – embarcou. Eles nunca chegaram a fazer a segunda parada, em Zagreb, na Croácia.

E pior: Vesna não estava escalada para trabalhar no JAT 367. A companhia aérea a confundiu com outra funcionária homônima e ela acabou indo prestar o serviço de bordo. Até que, às 4h01 da madrugada, 46 minutos após a decolagem, uma explosão no compartimento de bagagens dividiu a aeronave em três partes.

Com a cabine despressurizada, os passageiros e a tripulação acabaram sugados para fora do avião, em contato com uma temperatura atmosférica congelante. Acredita-se que todos morreram antes mesmo de chegar ao chão.

Já Vesna acabou sobrevivendo por ter ficado presa por um carrinho de comida na cauda da fuselagem (a parte principal do corpo do avião). Separada do resto da aeronave, a parte da cauda caiu numa região de mata fechada perto da vila de Srbská Kamenice, na Tchecoslováquia, e atingiu o chão coberto por uma grossa camada de neve em um ângulo favorável.

Além disso, os médicos que atenderam Vensa apontaram que sua baixa pressão sanguínea fez ela rapidamente desmaiar durante a despressurização, o que preveniu que seu coração explodisse com o impacto.

Resgate e recuperação

Vesna foi encontrada gritando dentro dos destroços por Bruno Honke, um morador local e médico veterano na Segunda Guerra Mundial, que conseguiu administrar os primeiros socorros até a chegada da equipe de resgate.

No hospital, a sobrevivente chegou com ferimentos sérios e precisou ficar os dias seguintes em coma. Ela teve traumatismo craniano e fraturou as duas pernas, três vértebras, a pélvis e as costelas. Por causa disso, ficou temporariamente paralisada, só voltando a andar 10 meses depois, ainda mancando por causa de uma torção na espinha.

Em sua terra natal, a Iugoslávia, Vesna tornou-se um ícone nacional. Recebeu honrarias do então presidente, o ditador Josip Broz Tito. Uma música também foi composta em sua homenagem, intitulada “Vesna stjuardesa" (Vesna, a comissária), pelo cantor de música folclórica sérvia Miroslav Ilić. E na cerimônia do Hall da Fama do Guinness, o livro dos recordes, em 1985, ela recebeu a medalha e o certificado diretamente de Paul McCartney, seu ídolo de infância.

Depois de se recuperar da queda, Vesna continuou trabalhando para a JAT Airways em um cargo no escritório, mas foi demitida no início dos anos 1990 por participar de protestos antigovernamentais contra Slobodan Milošević, presidente da Sérvia na época. Milošević foi posteriormente julgado em Haia por crimes contra a humanidade. 

"Sou como um gato, tive sete vidas", disse ela ao New York Times. "Mas se as forças nacionalistas prevalecerem neste país, meu coração vai explodir".

O que causou a explosão do JAT 367

De acordo com a Autoridade da Aviação Civil da Tchecoslováquia, a explosão foi causada por uma maleta-bomba colocada no compartimento de bagagem da aeronave. No mesmo dia da tragédia, outra bomba foi detonada em um trem entre Viena e Zagreb, ferindo seis pessoas.

Dias após os incidentes, o jornal sueco Kvällsposten recebeu uma ligação de um autointitulado nacionalista croata que admitiu ter derrubado o voo JAT 367. Embora nenhuma prisão tenha sido feita, as autoridades iugoslavas suspeitaram que o grupo terrorista ultranacionalista croata Ustashe tenha sido responsável pelos atentados. Ao todo, grupos nacionalistas croatas realizaram 128 ataques contra a Iugoslávia entre 1962 e 1982.

A causa da explosão do voo JAT 367 e a subsequente queda também foram objeto de teorias da conspiração. A mais popular delas sugeriu que o avião foi derrubado por engano por mísseis antiaéreos da Tchecoslováquia a uma altitude muito menor, de 800 metros (2.600 pés), o que invalidaria o recorde mundial de Vesna. No entanto, essa afirmação foi desmentida por dados de voo obtidos das caixas pretas da aeronave, que forneceram dados exatos sobre a altitude, aceleração, direção e velocidade do avião no momento da explosão.

Valedoitaúnas (Revista Galileu)



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