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Cidade na Baixada Fluminense será a primeira da América Latina a gerar óleo diesel a partir de plástico descartado

26 de fevereiro de 2021

São João de Meriti quer virar exemplo para municípios vizinhos, rompendo com o ciclo histórico de absurdos ambientais na região

Cidade na Baixada Fluminense será a primeira da América Latina a gerar óleo diesel a partir de plástico descartadoSão João de Meriti usará o lixo urbano para produzir energia elétrica e combustível – Foto: Divulgação

A partir do lixo, criar energia. Não se trata de alquimia, nem de bruxaria, mas sim de uma realidade que, embora ainda pouco comum no Brasil, já é muito difundida em vários países desenvolvidos da Europa e da Ásia, além de cidades do Estados Unidos. Seul, na Coreia do Sul, usa o material gerado a partir dos dejetos para calefação, ajudando a aquecer os moradores. E Paris, capital francesa, tem uma Unidades de Recuperação Energética (UREs) dentro da cidade. Agora, São João de Meriti, na Baixada Fluminense, tenta entrar para essa seleta lista.

O município vai receber uma das primeiras UREs do Brasil, que será pioneira na América Latina em produzir óleo diesel a partir de plásticos, como as garrafas PET e pacotes de biscoito que emporcalham rios, lagoas e baías fluminenses. Além de gerar esses produtos a partir do que a população joga fora, a aposta na URE é reduzir custos com transporte, tratamento e disposição final adequada dos resíduos, além de gerar investimentos, empregos e renda em São João de Meriti.

INFOGRÁFICO:Entenda como será o processo de transformação de lixo em energia e combustível

O projeto é uma parceria da URE Fluminense com a Mais Verde, concessionária de limpeza urbana local, com investimentos externos. E deve ter obras concluídas até 2023, na Estação de Transferência de Resíduos (ETR) do bairro Venda Velha, que já está tendo o terreno preparado para o empreendimento.

Além de atender aos cerca de 600 mil moradores do município - que tem uma das maiores densidades populacionais do país -, expansões na unidade a darão uma capacidade de beneficiar até 1,2 mil toneladas diárias de resíduos, três vezes mais do que o lixo gerado por São João de Meriti e o equivalente ao descarte de cerca de 1,5 milhão de pessoas. O objetivo, diz Ecles Luiz dos Santos, diretor geral da URE Fluminense, é fazer da cidade referência nessa nova matriz energética. Mas também ser uma solução para municípios vizinhos, rompendo com o ciclo histórico da Baixada de verdadeiros absurdos ambientais na destinação desses dejetos.

“A URE é uma inovação diante do aumento da quantidade de resíduos resultantes do crescimento da população e da atividade humana. Queremos criar uma nova mentalidade a partir de produtos que terão um valor diferenciado: não financeiro, mas um valor de qualidade de vida”, diz Ecles.

Ele explica que, do resíduo sólido urbano produzido, os biológicos, como restos de frutas, legumes e outros alimentos, depois de desumidificados, continuarão indo para o aterro sanitário. Metais, vidros e plásticos duros, como o PVC, são separados para a reciclagem. A partir daí, outros derivados de plástico – a exemplo das PETs –, com grande concentração de nafta em sua composição, passarão por um processo químico para produzir óleo diesel. O restante, como têxteis, galhos da poda das árvores, pedaços de madeira, derivados de borracha e papel, sofrerá uma granulação e trituração até que suas partículas fiquem em tamanho homogêneo. Esse material que será convertido em energia elétrica ou vendido para os fornos de produção de cimento do interior do estado.

“Em geral, a cada cem toneladas de resíduos, 10% vão para o aterro, de 15% a 20% serão destinados à produção de combustíveis biossintéticos, e os demais 80% a 85% vão virar energia ou comercialização às cimenteiras”, afirma Ecles.

Na primeira fase, a URE terá capacidade de gerar 10 MW de energia elétrica, o suficiente para abastecer um bairro de 50 mil habitantes. Parte dela será destinada a um conjunto residencial próximo ao local da unidade, onde os moradores serão beneficiados com a doação de 35% da energia elétrica consumida. Já a cada 400 toneladas de lixo, serão gerados 40 mil litros de combustível biossintético, para abastecer os veículos da própria empresa, toda a frota a diesel da prefeitura e ainda vendê-lo a empresas, como transportadoras, firmas de logística de de navegação. Esse óleo, ressalva o diretor da URE, só não poderá ser vendido nas bombas dos postos de gasolina, por vir de um processo alternativo, não oriundo de refinarias.

Valedoitaúnas/Informações O Globo



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